Bom Dia, Verônica - 1° temporada - Crítica
Inovando finalmente para variar, Netflix conseguiu produzir uma das melhores séries de seu catálogo e que deixa muitas séries americanas no chinelo, digamos assim. Essa é Bom Dia, Verônica.
A série brasileira da Netflix (baseada no livro de Ilana Casoy) conta a história da personagem-título (Tainá Muller), uma escrivã que trabalha em uma delegacia de São Paulo, e enquanto tenta descobrir quem é o maníaco que está roubando e enganando mulheres através de um site de namoro, também se envolve na história de Janete (Camila Morgado), uma mulher que é vítima de violência doméstica e que sofre abusos de seu marido Cláudio (Eduardo Moscovis), tenente-coronel da polícia.
Pode-se dizer que a série é incrivelmente arrasadora do início ao fim, cheia de mistérios e muita adrenalina, mas também há a parte da violência, na qual a personagem Janete sofre constantemente em todos os episódios. Uma coisa a se dizer é que é necessário ter "muito estômago" para digerir essas cenas, elas incomodam justamente devido a realidade que muitas vítimas passam todos os dias em suas casas.
A série consegue fisgar a atenção do público, não somente com seu enredo, mas também com os personagens. Verônica por exemplo, é aquela policial que a gente quer que todos os policiais sejam assim: bons, que façam de tudo pra que se faça justiça, etc. Ela é uma personagem que dá gosto de torcer, e você fica mexido com as situações que ela passa, que além de ser uma policial, ela também fica preocupada com sua família e também tem questões difíceis com seu pai e do seu trauma ao perder a sua mãe quando mais nova. Em todas as cenas ela mostra coragem e força de vontade para continuar tentando e buscar a tão sonhada justiça.
Um dos grandes pontos positivos da série são as verdades que os roteiristas conseguiram transmitir, a corrupção entre policiais. Não é de hoje saber que o Brasil está cheio de corrupção, seja com policiais, na política, em todos os lugares, é na maioria das vezes a justiça brasileira é praticamente inexistente, e Bom Dia, Verônica conseguiu transmitir isso muito bem, você assiste a série e vê que é extremamente difícil confiar em algum personagem policial, a própria Verônica fica mexida em perceber que não tem um policial bom naquela delegacia.
Outro assunto também é a misoginia que existe na polícia. Dá pra contar nos dedos quantas policiais mulheres tem na série (de importantes só tem duas), e isso reflete entre a sociedade. E também tem o fato de muitos policiais não acreditarem ou tentarem colocar suas perspectivas pessoais entre alguns casos. Destaque inclusive para a cena de Anita (Elisa Volpatto) uma delegada (que obviamente muitos irão odiar) que acaba tentando desacreditar uma vítima de abuso e roubo enquanto ela presta queixa, e logo depois tem uma cena onde conversa com Verônica dizendo que as vítimas foram burras de entrarem em aplicativo de namoro e procurar um "príncipe encantado". Essa inclusive tem muitos embates com Verônica.
O destaque da série é completamente o elenco. Tainá Muller finalmente encontrou a personagem de sua carreira. Mais conhecida por ter feito várias novelas da Rede Globo (talvez a mais lembrada seja a fotógrafa Marina da novela "Em Família"), ela conseguiu se sobressair com essa personagem. Boa atriz que é, ela sempre foi desvalorizada em muitas produções da Globo, algumas personagens com destaque, outras nem tanto. Aqui ela finalmente encontrou algo pra chamar de seu, se destacou positivamente em todas as suas cenas. Netflix conseguiu dar algo a ela que a Globo dificilmente conseguiu dar: o devido valor e uma personagem de peso.
Outro grande destaque (e talvez o melhor da série) com certeza foi Camila Morgado. Camila já teve muito desataque na Globo, seja em novelas, filmes e afins, a maioria em comédias, mas a Netflix conseguiu surpreender e deu a ela uma personagem dramática. Ela conseguiu trabalhar muito bem com as nuances de Janete, as cenas de agressão e violência foram muito duras e ela atuou divinamente, dá para a ver o horror que a personagem sofre, ela está apenas ali sofrendo tudo por achar que a culpa era sua, que era castigo por não conseguir dar um filho para o marido, por achar que ele mudaria quando ela conseguisse, e que também tinha medo de denuncia-lo, uma dura e cruel realidade que muitas mulheres e vítimas passam sempre. Camila estava fantástica.
Não é difícil se dizer que Eduardo Moscovis já interpretou muitos papéis ao longo de sua carreira, seja mocinho ou vilão, mas definitivamente Cláudio foi o seu pior (no bom sentido) personagem que ele já fez até agora. Cruel, violento, abusador, misógino, e com ar de psicopata, são as claras referências de um marido violento, mas esse personagem superou todos os limites, é praticamente impossível não desejar que ele morresse logo e que Janete fugisse dele, dava nojo vê-lo em cena, e Eduardo Moscovis atuou tão bem que deu para pegar até antipatia e raiva do ator (claro que a culpa não é dele). As cenas dele levando jovens mulheres para um cativeiro e torturando é desesperador e dá muita angústia, e Eduardo conseguiu mostrar muito bem as suas nuances. Com esse personagem que conseguiu mostrar novamente que você consegue brilhar e garantir algum sentimento entre o público quando se tem um bom enredo para trabalhar, diferente dos últimos papéis do ator na Globo como em A Regra do Jogo e O Sétimo Guardião, que foram um dos piores de sua carreira.
Bom Dia, Verônica é uma ótima produção que conseguiu trabalhar em muitas camadas e assuntos atuais, sem deixar se perder ou decepcionar o público. É tão boa que é difícil encontrar um ponto negativo realmente relevante, é a melhor série brasileira que a Netflix fez até agora em minha humilde opinião, e espero que agora criem mais produções brasileiras e deixem de focar apenas em produções americanas. E sem surpreender ninguém a série já foi renovada para a 2° temporada, ainda bem, pois não merecia ser cancelada devido ao grande final que teve. Agora é esperar para crer que a 2° temporada tenha o mesmo nível da 1°.
NOTA 10/10
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