Criada em duas semanas, " A Dona do Pedaço" termina com gostinho de decepção
Enfim "A Dona do Pedaço" se encerra, não há como discordar que a novela foi um sucesso absoluto de público na Globo, porém foi recheada de críticas e incoerências ao longo dos meses. Walcyr Carrasco concluiu mais um êxito em sua carreira, mas conseguiu também repetir seus textos rasos e repetitivos (quem aguentava aqueles bordões ditos em praticamente todos os capítulos?), além de alguns desserviços: vide cena da Linda (Rosamaria Murtinho) dizer a Maria da Paz ( Juliana Paes), que sua filha poderia ser psicopata sem nem ter examinado, se baseando em apenas suposições porque tinha feito pós-graduação de Psicologia.
A primeira fase da novela pode-se dizer que foi memorável e instigante: duas famílias justiceiras que se odiavam e criavam uma rivalidade uma com a outra, Juliana Paes esteve ótima e coesa nessa fase, porém o mesmo não se pode dizer na seguinte. Com o início da segunda fase, Maria da Paz do nada havia adotado um sotaque estranho e diferente, que logo foi suavizado ao longo do enredo. Aos poucos ela se encontrava no tom. A protagonista era carismática, porém sua burrice poderia pôr tudo a perder, a imensa lerdeza em não perceber que sua filha e seu marido tinham um caso irritou o público por muito tempo, chegando a quase odiá-la, mas isso não importa hoje em dia, a personagem caiu no gosto do público e conquistou a todos, além de uma certa química com Reynaldo Giannecchini, seu Régis acabou se redimindo na reta final e gerou uma torcida para que ficasse com Maria no final.
Boa atriz que é, Paolla Oliveira conseguiu se destacar com sua exagerada Vivi Guedes. A personagem foi um sucesso de vendas para a Globo, com inúmeras propagandas. A atriz bem que tentou atuar na normalidade, entretanto abusou de seus tremeliques e sempre se gesticulava ao falar. Era completamente espalhafatosa. Prometia muito, mas não foi bem executada pelo autor, se limitando a apenas tirar fotos em estúdio. Mimada, infantil (às vezes agia como uma menina de 6 anos). Não é culpa da interprete, e sim da direção. Não foi o pior papel da carreira dela, mas está longe de ser um dos melhores. Seu romance com Chiclete ( Sérgio Guizé) arrebatou o público e por muitas vezes se destacavam mais que os mocinhos da trama. O casal esbanjou química, todavia a história do justiceiro e seu amor pela digital influencer não foi bem planejada, se resumido em apenas cenas tórridas de sexo no motel.
Teve uma ótima sintonia com Nathalia Dill, apesar de Walcyr ter largado o plot da rivalidade entre irmãs que poderia muito bem ter funcionado, mas preferiu apostar em outras histórias.
Mesmo interpretando uma personagem não tão bem construída, Agatha Moreira conseguiu se sobressair e impressionou como a vilã Josiane, gerando raiva entre os telespectadores. Não é a toa que a atriz disse em uma entrevista que a psicopata é a Carminha da sua carreira, por muito tempo irão lembrá-la por esse papel, mesmo sendo uma personagem sem muito carisma como Nazaré, Flora e a própria Carminha, e sem uma real motivação para suas maldades com a mãe (dizer que sofria bullying por ser filha da boleira não é uma motivação concreta). Vale mencionar que Agatha e Reynaldo formaram uma boa dupla. Seu final foi uma boa sacada do autor, mostrando que nem todas as pessoas mudam de verdade, ainda mais psicopatas.
Outra atriz que surpreendeu (mais ainda) foi Nathalia Dill. Sua Fabiana conquistou o público (alguns a odiaram, outros a amaram), mas ela sempre se destacava e aqui Dill mostrava cada vez mais o seu talento. Seu bordão "Eu fui criada num convento", por mais que tenha sido bem repetitivo, foi um sucesso entre os telespectadores e com certeza a personagem será lembrada por esta frase.
Todavia, nem tudo foi flor que se cheire, o casal Britney (Glamour Garcia) e Abel (Pedro Carvalho) eram até bonitinhos juntos, mas não tiveram uma boa história. Servidos como um alívio cômico, a trans e o português caricato foram feitos apenas com a intenção de rir, sendo que o autor poderia abranger mais a questão da transexualidade com naturalidade e de forma séria, assim como Glória Perez fez com a Ivana em "A Força do Querer", mas Walcyr preferiu algo escrachado mesmo. E o beijo do casal só aconteceu no penúltimo capítulo, como se isso fosse ainda um tabu. O mesmo vai para Agno (Malvino Salvador) e Leandro ( Guilherme Leicam), do que adiantou a intenção de mostrar personagens gays que fogem do estereótipo de afeminados presentes em muitas novelas se os mesmos não se beijavam, não se envolviam, apenas se cumprimentando, dando abraços como se fossem "Brothers", nem apareciam ser um casal. E o beijo que só aconteceu no famigerado último capítulo foi bem aquém do esperado pelo telespectador. Pra um autor que criou o primeiro beijo gay da Globo em 2014 (Félix e Nico em Amor à Vida), parece que estamos regredindo pra antes.
Outro núcleo que vale ser mencionado é o núcleo do Marco Nanini, um dos piores núcleos já existentes da história das novelas na minha opinião. Grande ator e de seu quilate, Nanini não merecia passar pelo que passou: QUE HISTÓRIA ERA AQUELA DA MÃO? Um show de horrores e um elenco de veteranos totalmente desperdiçados: Betty Faria, Rosi Campos, Tônico Pereira (que fizeram figuração de luxo mereciam bem mais). E também teve Tonho (Betto Marque), garçom de Maria com a história de suas vibrações... QUAL É O INTUITO? PRA QUE FICAR FALANDO PRA CADA PERSONAGEM ALEATÓRIO QUE APARACESSE QUE ELE SENTIA BOAS/ MÁS VIBRÇÕES?
Menção honrosa para: Suely Franco (um doce de personagem, teve uma ótima sintonia com Juliana Paes, parecendo ser uma relação de mãe e filha), Ary Fontoura, Sérgio Guizé (apesar do rumo do personagem ter sido horrível), Lee Taylor ( que marcou como Camilo, suas cenas junto com Paolla foram impressionantes, fazendo o público odiar o policial contra as barbaridades que fazia com sua esposa), Mônica Iozzi (com sua divertida Kim), Fernanda Montenegro (em uma participação maravilhosa e perfeita), Natália do Vale, Bruno Bevan, entre outros.
E também teve atores muito mal aproveitados: Marcos Palmeira (além de ter tido um péssimo personagem, não teve química alguma com Juliana, se tornando cada vez mais insosso quando aparecia em cena), Lucy Ramos (muito mal utilizda, não teve uma história forte para chamar de sua), Rosamaria Murtinho ( merecia bem mais do que ficar sentada o tempo inteiro na sala de estar), Mel Maia ( sua história infelizmente foi muito mal executada), Felipe Titto (não é um bom ator, mas não dá pra engolir seu personagem se tornar do nada um alcoólatra), etc.
"A Dona do Pedaço" foi uma novela bem mediana, tinha histórias e momentos interessantes devo admitir, algumas incoerências, histórias surreais que subestimavam a inteligência do telespectador, mas que conseguiu conquistar a maioria dos noveleiros e recuperar audiência da novela anterior se
tornando um fenômeno de merchandising para a Globo. Ela pode ser lembrada por suas cenas finais (que teve uma certa semelhança com o final de Verdades Secretas, do mesmo autor, porém com contextos diferentes ao meu ver), mas daqui há alguns meses ela será completamente esquecível.
NOTA: 6/10
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