Aguardada pelo público brasileiro e com elenco de peso, Três Vezes Ana revelou ser uma novela mediana
Chegou ao fim na sexta (10) no canal TLN Network a novela Três Vezes Ana (Tres Veces Ana), uma das grandes apostas da Televisa em 2016, protagonizada por Angelique Boyer interpretando trigêmeas. Também no elenco constam Sebastián Rulli, David Zepeda, Eric del Castillo, Ana Bertha Espin, Blanca Guerra, Pedro Moreno, Carlos de la Mota, entre outros. Porém mesmo com este grande elenco, Três Vezes Ana acabou decepcionando até os mais pessimistas.
A história da novela girava em torno das trigêmeas protagonizadas por Angelique: Ana Lúcia, Ana Laura e Ana Letícia. Quando tinham 4 anos as irmãs, junto com seus pais, sofrem um acidente de carro, onde os pais morrem e Ana Lúcia acaba se perdendo das outras duas, e Ana Laura acaba perdendo uma perna. 20 anos se passam, e a família ainda procura a trigêmea perdida, que foi resgatada por Soledad (Blanca Guerra) que criou a menina como sua filha e esconde esse segredo.
Ana Lúcia se tornou uma jovem acrobata, já Ana Laura se tornou uma jovem reclusa do mundo por causa de sua deficiência e é apaixonada por Ramiro (David Zepeda) que também a corresponde, mas a mesma tem medo de se envolver com ele. Por fim Ana Letícia se tornou uma mulher caprichosa, mimada e egoísta, com inveja de sua irmã e querendo que Ana Lúcia nunca volte para suas vidas. Ela se tornou viúva de Marcelo (Sebastián Rulli) investigador que procurava a irmã perdida, mas acaba sendo dado como morto e perde a memória, criando uma nova identidade, Santiago. E por ironia do destino, ele conhece Ana Lúcia e se apaixona por ela, e agora ele terá que descobrir o seu passado e ligar os pontos que desencadeia a trama.
Em 2016 tanto o público quanto a própria Televisa estavam ansiosas para a grande estreia da novela por três motivos: a novela era um remake de Laços de Amor, original de 1995 protagonizada por Lucero, e que fez grande sucesso por onde passou. Por Angelique Boyer, que estava (e continua até hoje) no auge da carreira, e também por repetir par novamente com Sebastián Rulli e David Zepeda, com quem protagonizou os fenômenos O Que a Vida me Roubou, Teresa e Abismo de Paixão, respectivamente. Além disso a produtora da novela era Angelli Nesma, também responsável pelas novelas citadas (menos Teresa). Ou seja, tinha tudo para dar certo e que nada daria de errado não é? Pois é, mesmo que estivesse tudo a seu favor, Três Vezes Ana terminou como uma das novelas mais fracassadas da emissora.
Devo adicionar um ponto positivo que foi os primeiros capítulos, realmente a trama impressionava em seu início, com uma ótima direção, efeitos especiais magníficos nas cenas de Ana Letícia e Ana Laura reunidas, elenco afiado, entre outros. Porém a lentidão da trama já começara a aparecer. Não assisti a versão original de 1995, portanto não posso dar uma conclusão, mas muitos dizem que na época era considerada lenta, e aqui não foi diferente. Mesmo que a cada capítulo acontecia algo de surpreendente ou interessante, ainda parecia que a novela não saía do lugar, e logo depois os problemas surgiram.
Pode-se dizer que a trama mais estranha e absurda foi a de Marcelo/Santiago, o mocinho da história. Um investigador calculista, que não se importa em matar ou machucar pessoas, acaba perdendo a memória e se torna Santiago, um pobre taxista completamente honesto, fiel e que não machucaria uma mosca sequer. Com essa trama não vi problemas ele se envolver com duas das trigêmeas e estar apaixonado por elas, acho que deu um pouco de gás pra história (que é inédita pois não existe na versão de 95), porém o que mais incomodou foi o personagem ter dupla personalidade, onde tanto Marcelo quanto Santiago tentavam se apossar do corpo e decidir quem vai ganhar no final, como se fosse uma disputa, e sempre de uma hora para outra Marcelo se transforma em Santiago, e vice-versa, o que acabou irritando o público, e essa transformação sempre era receptiva quando o personagem desmaiava ou saía sangue do nariz, fazendo com que a situação ficasse a beira do ridículo.
Infelizmente Sebastián Rulli não foi feliz em sua interpretação (mesmo que tenha dado tudo de si), mas o personagem era tão chato, mas tão chato que resultou em seus piores papéis da carreira (pelo menos na minha opinião). Pode ter ganhado o prêmio de melhor ator na época, mas Marcelo/Santiago irão cair no esquecimento, se é que já não caiu.
Outro personagem que foi por muitas vezes mal explicado na trama foi a de Evaristo (Eric del Castillo). Um senhor de idade que cometia crimes e que era ex-parceiro de Marcelo nos negócios, acabou se revelando como pai, avô, compadre, conhecido, confidente, padrasto e cúmplice de 80% dos personagens da novela, tudo que se atrelava na história, ele estava envolvido de alguma forma, e sinceramente isso acabou ficando mais confuso do que nunca. E o público que se virasse pra entender.
E para explicar os tantos acontecimentos do passado, a novela exibia diversos flashbacks do que havia acontecido para que o telespectador entendesse a trama e a motivação de alguns personagens, e isso só fez o público ficar mais confuso ainda. Em praticamente todos os capítulos tinha uma cena de flashback, e acredito que esse tenha sido o grande erro da novela. Três Vezes Ana poderia simplesmente começar a partir do fim do noivado de Ramiro (David Zepeda) e entre o casamento de Ana Letícia e Marcelo. Daria ótimos 5 capítulos pra mostrar o passado de forma clara, para enfim, começar o enredo.
Um personagem que acabou encantando mas não foi grande coisa foi Ramiro. Inspirado em um típico príncipe encantado, Ramiro era um homem honesto e bondoso que é apaixonado por Ana Laura, e tenta de todas as formas lutar por esse amor impossível que os empecilhos do destino os separam, e essa é basicamente o enredo do personagem, não havia muito o que fazer aqui. Acredito que essa tenha sido o pior personagem de David Zepeda desde que chegou a emissora, ou talvez até da carreira. O mesmo não deve nem se lembrar que participou da novela.
Blanca Guerra infelizmente teve aqui uma de suas piores personagens. Soledad era irritantemente chata e testou por diversas vezes a paciência do público, mas teve sintonia em cena com Angelique. Eric Del Castillo esteve "com classe" como Evaristo, mas o personagem não agradou tanto assim. Ramiro Fumazoni, o tio das trigêmeas, demonstrou que não sabe nada de atuação e que possui apenas beleza e corpo definido. Susana Dosamantes, que fez a avó das trigêmeas que a procura eternamente pela gêmea perdida, esteve em tela completamente chata e apática.
Um dos poucos personagens que deram certo foram Remedios e Iñaki, interpretados por Ana Bertha Espin e Pedro Moreno. Grande atriz que é, Ana Bertha esteve muito bem como a doce Remedios, dona da pensão onde vivia Marcelo e Ana Lúcia e mostrou novamente uma ótima sintonia com Sebastián Rulli, com quem repete o papel de "mãe" após Rubi e O Que a Vida me Roubou. E Pedro Moreno interpretou um ótimo vilão. Ambicioso, sedutor e orgulhoso, Iñaki era daqueles personagens que late mas não morde, um vilão até que complexo e cheio de camadas, sua química com Angelique foi estupenda e bem quente, assim como as cenas sensuais dos dois.
E por último, mas também não menos importante, Angelique Boyer, a grande protagonista (e também vilã) da novela. O que dizer sobre sua atuação? Foi boa? Foi ruim? Veremos. Com Ana Laura, Angelique esboçou doçura com a personagem, dava pena de ver ela sempre ter medo do mundo e aguentando as provocações e piadas de mal gosto de sua própria irmã devido sua deficiência, mas também foi ótimo vê-la superando seus medos. Com relação a sua química com David, infelizmente não conseguiram repetir essa mesma sintonia como em Abismo de Paixão, mas não significa que não fizeram um casal bonito.
Com Ana Lúcia, a trigêmea perdida e considerada a protagonista principal, Angelique infelizmente interpretou sua pior personagem da carreira. Esperta, encantadora, mas também chata, irritante em alguns momentos e muito, mas muito insuportável, Ana Lúcia se via promissora em seus primeiros capítulos, mas foi só se envolver com Marcelo/Santiago que tudo desabou. E ao longo da novela a nossa protagonista virou uma "dependente de macho". Em praticamente todos os capítulos, Ana Lúcia só sabia chorar e dizer "Santiago, meu amor" quando o mocinho não estava perto dela, e assim que ela decidiu se tornar amante do galã, foi aí que ficou mais insuportável do que nunca. E além disso seu núcleo (o da pensão e do estúdio de dança) foi o mais chato da novela, figurantes completamente apáticos e sem função alguma, dava pra cortar tantas cenas ali. Não sei se a mocinha de Lucero foi desse jeito, mas a personagem não fluiu de forma esperada.
E por fim, com Ana Letícia, Angelique interpretou a melhor personagem da novela. Má, arrogante, mimada, invejosa, dissimulada, sedutora e muitos outros adjetivos, Ana Letícia "carregava a novela nas costas", e muitos de seus passos e motivações, faziam com que a novela andasse e o enredo fluísse. Seus surtos, seu jeito dissimulado de ser e seus crimes foram as melhores coisas da trama, e o bom de tudo é ela ser uma personagem complexa. Apesar de tudo ao extremo, dava para entender as motivações da vilã e de tudo o que ela fazia, sua dependência emocional, seu ciúme descabido, seu trauma de infância, seu remorso e sua culpa, Ana Letícia foi uma personagem muito bem trabalhada. E por mais que não tenha sido a "mega vilã" como todos esperavam, Angelique deitou e rolou em tela. Não é a toa que ganhou o prêmio de melhor atriz na época pelas trigêmeas, e bem merecido.
O final acabou sendo decepcionante e muito fraco, mas em compensação, a trama acabou tendo uma excelente reta final e capítulos completamente intrigantes, mas tudo para um final clichê e muito, mas muito inferior comparado ao final emblemático da novela original que é discutido até hoje.
Apesar de tudo que comentei, Três Vezes Ana não foi ao todo ruim, outro ponto positivo que posso contar são as ótimas sequências que teve como as várias cenas das trigêmeas enfim juntas, cenas de luta, os surtos de Ana Letícia, os crimes da vilã e muitos outros. Tinha tudo para ser uma ótima novela, bom enredo eles tinham em mãos, mas infelizmente não souberam lidar com os erros e com os furos do roteiro, fazendo com que a trama infelizmente fracassasse. Caso um dia exibam na TV aberta aqui no Brasil o público pode se empolgar, mas há grande chance de perderem rapidamente o interesse.
NOTA 6.5
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